sábado, 18 de setembro de 2010
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Não te quero senão porque te quero.
Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.
Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.
Pablo Neruda
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.
Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.
Pablo Neruda
domingo, 29 de agosto de 2010
Amo-te Assim.
Amo-te assim,
Sem efeitos nem disfarces
Quando ficas ou quando partes
E permaneces em mim.
Não exagero no amor
Que te dedico.
Sei que te amo
Como amo o infinito
Que vejo em pensamento.
Sei que te amo,
Que quero estar contigo,
Para afastar o meu tormento.
Só contigo satisfaço
Este desejo de amar,
Esta ansiedade.
Só contigo consigo estar,
Apanhar e alcançar
A minha paz e liberdade.
Amo-te assim,
Num sentimento tão profundo,
Como se tivesses descido do céu
Que trocaria todo o mundo
Para viver só contigo
E ser eternamente teu.
/PF
Sem efeitos nem disfarces
Quando ficas ou quando partes
E permaneces em mim.
Não exagero no amor
Que te dedico.
Sei que te amo
Como amo o infinito
Que vejo em pensamento.
Sei que te amo,
Que quero estar contigo,
Para afastar o meu tormento.
Só contigo satisfaço
Este desejo de amar,
Esta ansiedade.
Só contigo consigo estar,
Apanhar e alcançar
A minha paz e liberdade.
Amo-te assim,
Num sentimento tão profundo,
Como se tivesses descido do céu
Que trocaria todo o mundo
Para viver só contigo
E ser eternamente teu.
/PF
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Solange.

Solange,
Só me pergunto onde páras tu. E mais ainda, onde paro eu. Onde paramos as duas, as inocentes vilãs, as malditas. Nunca mais consegui sentir o cheiro das tuas luvas, da tua bata, das tuas meias ou dos teus dentes. Nunca mais consegui sequer fechar os olhos e imaginar-me com a minha cabeça no teu colo. Lembras-te? Nessa altura éramos felizes. Eramos ambas submissas, éramos ambas felizes, apesar do amor ódio que todos os dias pairava por ali, por aquele quarto, enquanto fazíamos as camas ou esfregávamos o chão.
Hoje, levo comigo aquelas luvas brancas. Hoje consigo sentir aqueles brincos nas minhas orelhas, e aquelas peles por cima dos meus ombros. Hoje sim, consigo sentir-me a Senhora. Mas não me encontro Solange, não encontro a Clara. Acho que morreu. Naquela noite do chá, aquele chá envenenado que a Senhora não se dignou a beber. Foi a partir daí que nunca mais me encontrei, Solange.
Não corras as cortinas dos teus dias, não tapes o sol que quer entrar pela janela, mesmo que isso te faça recordar aquela manhã, lembraste? Aquela do Senhor, no dia em que foram prendê-lo. Não, isto não é de modo nenhum uma carta de denúncia. Aliás, minto. É a denúncia, sim, mas do meu amor e da minha saudade por ti.
Ajuda-me, Solange. Não encontro a Clara. Parece que ficou perdida por aí.
Eramos As Criadas, eramos as Senhoras, eramos a Clara e a Solange. E hoje? O que é que somos? Nada. Não nos restou nada.
Agora, só me resta vestir aquele vestido branco e beber aquele chá naquele serviço "mais rico, no mais precioso".
"Guarda-me dentro de ti, Solange"
A tua,
Clara
sábado, 7 de agosto de 2010
Fazes-me Falta.
Fazes-me Falta,meu amor
E essa falta não chega
Para preencher esta saudade.
Fazes-me Falta, meu amor
E essa falta não chega
Para alcançar a liberdade.
Comecei a desaparecer
No dia em que os meus olhos
Se afundaram nos teus
Agora que os teus olhos se fecharam
Sei que não voltarás
A devolver-me os meus.
Agora choro, mas ninguém sabe
Agora morro, mas ninguém vê.
Fazes-me falta
Agora,
Ontem,
Amanhã
E eu continuo sem saber o porquê.
/PF
E essa falta não chega
Para preencher esta saudade.
Fazes-me Falta, meu amor
E essa falta não chega
Para alcançar a liberdade.
Comecei a desaparecer
No dia em que os meus olhos
Se afundaram nos teus
Agora que os teus olhos se fecharam
Sei que não voltarás
A devolver-me os meus.
Agora choro, mas ninguém sabe
Agora morro, mas ninguém vê.
Fazes-me falta
Agora,
Ontem,
Amanhã
E eu continuo sem saber o porquê.
/PF
terça-feira, 3 de agosto de 2010
De: / Para:
Amigos, acabou. Infelizmente acabou. Era uma coisa que todos queríamos adiar nas nossas cabeças, mas chegou o fim. Já não faço mais parte daquele espaço e daqueles momentos. Agora, eles apenas fazem parte das nossas memórias. Obrigado por tudo o que me proporcionaram de bom. E desculpem por tudo o que vos proporcionei de mal. Guardarei sempre aqui todas as loucuras, as promessas e as palavras bonitas.
Só me resta desejar-vos que sejam felizes e sorriam sempre.
Encontramo-nos por aí...
Só me resta desejar-vos que sejam felizes e sorriam sempre.
Encontramo-nos por aí...
sábado, 10 de julho de 2010
Quarta Parede.
No fundo do eu,
Espectador do imaginário
E das contradições,
Assisto ao meu elenco
Na passividade de plateia
Que sou.
Figurante do que sinto
Enceno os dias
No palco dos actores
Que protagonizam
O sonho improvisado desta ficção.
Cómica caixa cénica
Ou trágica peça encenada
Que pode ser um drama
Ou simplesmente não ser nada.
Parede imaginária
No invisível
Deste pedaço de vida
A confundir o elenco.
Palco de invasores sentimentos,
Nos bastidores intransitáveis da alma,
Que não vêm à cena.
Mundo lúcido enredado
Na rotunda da emoção.
Quarta parede a impedir o sim
Quando a plateia
Só vê o não.
/PF
Espectador do imaginário
E das contradições,
Assisto ao meu elenco
Na passividade de plateia
Que sou.
Figurante do que sinto
Enceno os dias
No palco dos actores
Que protagonizam
O sonho improvisado desta ficção.
Cómica caixa cénica
Ou trágica peça encenada
Que pode ser um drama
Ou simplesmente não ser nada.
Parede imaginária
No invisível
Deste pedaço de vida
A confundir o elenco.
Palco de invasores sentimentos,
Nos bastidores intransitáveis da alma,
Que não vêm à cena.
Mundo lúcido enredado
Na rotunda da emoção.
Quarta parede a impedir o sim
Quando a plateia
Só vê o não.
/PF
Você
Você que tanto tempo faz
Você que eu não conheço mais
Você que um dia eu amei demais
Você que ontem me sufocou
De amor e de felicidade
Hoje me sufoca de saudade
Você que já não diz pra mim
As coisas que eu preciso ouvir
Você que até hoje eu não esqueci
Você que eu tento me enganar
Dizendo que tudo passou
Na realidade aqui em mim você ficou
Você que eu não encontro mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você e hoje nada sou
Você que eu tento me enganar
Dizendo que tudo passou
Na realidade aqui em mim você ficou
Você que eu não encontro mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você e hoje nada sou.
Marina Elali
Você que eu não conheço mais
Você que um dia eu amei demais
Você que ontem me sufocou
De amor e de felicidade
Hoje me sufoca de saudade
Você que já não diz pra mim
As coisas que eu preciso ouvir
Você que até hoje eu não esqueci
Você que eu tento me enganar
Dizendo que tudo passou
Na realidade aqui em mim você ficou
Você que eu não encontro mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você e hoje nada sou
Você que eu tento me enganar
Dizendo que tudo passou
Na realidade aqui em mim você ficou
Você que eu não encontro mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você e hoje nada sou.
Marina Elali
sexta-feira, 9 de julho de 2010
9 .
Eu tinha de escrever, precisava de desabafar, senão rebentava. Neste momento não consigo falar com ninguém sobre nada. É aqui, só aqui que vou tentar dizer o que sinto. Apetece-me desaperecer. Sim, para bem longe daqui. Para um lugar distante, onde não haja pessoas, onde não conheça nem reconheça ninguém, nem sequer as pedras. Um lugar onde não haja coração, onde não haja cabeça nem cérebro, onde os sentimentos sejam anulados por qualquer coisa, ou que nem sequer existam. Quero fugir. Desaparecer. Preciso tanto de sair desta caixa que me sufoca. Falta-me o ar. Não olhes assim para mim. Não me insultes nem digas que me odeias, que me bates ou que te meto nojo. Não me cuspas na cara nem questiones os meus sentimentos. Deixa-me só ficar contigo. Desculpa. Desculpa. Desculpa. Sei que não vale de nada, mas tenho de o dizer.
Sei que errei, que acabei com muita coisa, mas não queria. Ás vezes parece que não valho nada. Que não me conheço, que ao fim de 18 anos ainda não me encontrei. Sim, acho que é isso. Ainda não me encontrei, estou meio perdido no meu labirinto.
E agora, pergunto - como vai ser? Eu não vou aguentar. Não vou conseguir sequer imaginar o que vais fazer, com quem vais estar, onde e quando. Não vou conseguir suportar essa ideia. A tua amizade até me pode chegar, mas não será a mesma coisa. Há momentos que não se esquecem. Sim, sei que sempre te disse o que não queria que fizesses, e eu fiz. Errei. Sim, eu sei. Errei. Mas porque não olhas para trás, para o que se passou, não metes o sentimento a falar mais alto que a raiva e que o ódio? Porque não me olhas nos olhos e dizes que me queres?
Eu não sei. Eu já não sei nada. Acho que nunca soube.
Às vezes penso que nunca te amei pelo que és, mas pelo que gostava que tivesses sido.
Não sei isto é a verdade, mas é uma hipótese. Talvez por isso que as coisas nunca tenham resultado como deviam. Talvez por isso as coisas não tenham começado da maneira mais correcta. Começamos mal, e acabámos mal.
Agora só me resta dizer-te, aliás, pedir-te que sejas feliz, porque mereces.
Desculpa mais uma vez, e não te esqueças que existo.
Sei que errei, que acabei com muita coisa, mas não queria. Ás vezes parece que não valho nada. Que não me conheço, que ao fim de 18 anos ainda não me encontrei. Sim, acho que é isso. Ainda não me encontrei, estou meio perdido no meu labirinto.
E agora, pergunto - como vai ser? Eu não vou aguentar. Não vou conseguir sequer imaginar o que vais fazer, com quem vais estar, onde e quando. Não vou conseguir suportar essa ideia. A tua amizade até me pode chegar, mas não será a mesma coisa. Há momentos que não se esquecem. Sim, sei que sempre te disse o que não queria que fizesses, e eu fiz. Errei. Sim, eu sei. Errei. Mas porque não olhas para trás, para o que se passou, não metes o sentimento a falar mais alto que a raiva e que o ódio? Porque não me olhas nos olhos e dizes que me queres?
Eu não sei. Eu já não sei nada. Acho que nunca soube.
Às vezes penso que nunca te amei pelo que és, mas pelo que gostava que tivesses sido.
Não sei isto é a verdade, mas é uma hipótese. Talvez por isso que as coisas nunca tenham resultado como deviam. Talvez por isso as coisas não tenham começado da maneira mais correcta. Começamos mal, e acabámos mal.
Agora só me resta dizer-te, aliás, pedir-te que sejas feliz, porque mereces.
Desculpa mais uma vez, e não te esqueças que existo.
sábado, 3 de julho de 2010
Breve Despedida.
Não sei por onde começar. Mas o que é certo, é cada dia que passa, é um dia a menos, nesta fase de três anos que chega ao fim. Começa a sentir-se alguma nostalgia e saudade. Há coisas que me lembro, que gostava de voltar atrás, de repetir e outras de esquecer. Vou ter saudades de tudo. Do Gil Vicente, do António José da Silva, dos tragediógrafos clássicos, de Shakespeare, de Genet e até de Camões. Genet, principalmente de Genet. O que eu dava para poder fazê-lo novamente.
O futuro neste momento é incerto. Mas o que é certo, é que a vida não pára. Qual o próximo passo? Não sei. Mas esta arte, vai continuar a fazer parte da minha vida.
O futuro neste momento é incerto. Mas o que é certo, é que a vida não pára. Qual o próximo passo? Não sei. Mas esta arte, vai continuar a fazer parte da minha vida.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Aquarela.
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...
Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...
Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...
Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num verde azul...
Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...
Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...
De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...
Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)...
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...
Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...
Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...
Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num verde azul...
Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...
Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...
De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...
Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)...
quinta-feira, 20 de maio de 2010
A Morte do Artista
ACTRIZ – Eu sou uma artista. Sim! Uma artista! Digo-o com vigor, e com vigor aceno com a cabeça em jeito de afirmação. Mas… onde estão os papéis? As encenações, os guiões, o palco? Onde está o teatro? Não sei. Mas para mim, a morte só existirá, quando o pano deixar de descer, deixar de ouvir aplausos e deixar de me sentir viva.
CANTORA – Eu também sou artista, mas dona da voz e das melodias tristes. A morte não passa disso mesmo, duma melodia triste. Quando deixamos de ouvir os sons, quando a voz já não obedece ou quando já não me querem ouvir. Eu nasço e morro e cada melodia que canto.
FOTÓGRAFA – O que é a morte, senão negativos por revelar? Fotografias a preto e branco, que existem, mas sem cor. Cada flash é uma vida, cada foto um ser, que não passam de memórias soltas de uma vida que acabou. Para ela não há soluções. E porquê? É o destino de todos nós.
PINTOR – Uma tela em branco. Um paisagem por desenhar. Um rio que passa, e que eu desenho. Mas que quando eu partir, eu rio ficará. A morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais. Não se apoquentem, nós sobrevivemos. A sorrir, obviamente.
CANTORA – Eu também sou artista, mas dona da voz e das melodias tristes. A morte não passa disso mesmo, duma melodia triste. Quando deixamos de ouvir os sons, quando a voz já não obedece ou quando já não me querem ouvir. Eu nasço e morro e cada melodia que canto.
FOTÓGRAFA – O que é a morte, senão negativos por revelar? Fotografias a preto e branco, que existem, mas sem cor. Cada flash é uma vida, cada foto um ser, que não passam de memórias soltas de uma vida que acabou. Para ela não há soluções. E porquê? É o destino de todos nós.
PINTOR – Uma tela em branco. Um paisagem por desenhar. Um rio que passa, e que eu desenho. Mas que quando eu partir, eu rio ficará. A morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais. Não se apoquentem, nós sobrevivemos. A sorrir, obviamente.
sábado, 17 de abril de 2010
Verdade da Mentira
Podia ter sido diferente, mas não fui. Até podia ter sido feliz, mas não fui. São tantos os sentimentos, os pensamentos que me passam pela cabeça e pelo peito. São tantas as coisas que quero viver, e não vivo. Existem sensações desconhecidas, labirintos do meu ser, que tambem desconheço a saída. Não existem placas nem direcções, nem bússulas, nem rosas dos ventos com o Norte ou o Sul. Até podia mandar um berro bem alto, gritar ao mundo o que quero e o que sou, mas não posso. O medo e a angústia assombram-me a toda a hora, e impedem-me de seguir o meu instinto. Basta pôr um sorriso, um ar feliz, seguir em frente como se nada fosse, e fingir que o mundo é fácil e verdadeiro. Mas é mentira, ele não está pronto para suportar diferenças, pessoas que estão à margem da sociedade, porque simplesmente são marginalizadas. Não posso mudar, o que não quer ser mudado. Eu fraquejo, tenho medo, inseguranças. Não estou pronto para me lançar às feras deste circo, para ser chicoteado pelo meu domador. Agora vivo escondido, magoado na penumbra da noite e do dia. Agora tenho pena dos palhaços, dos mascarados que vivem escondidos entre a verdade da mentira.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
sábado, 9 de janeiro de 2010
À Beleza
Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.
Miguel Torga, in 'Odes'
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.
Miguel Torga, in 'Odes'
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